Após dois anos sem realizar a tradicional festa regional das sementes, o município de Mangueirinha, região sudoeste do Paraná, recebeu a 17ª  edição da festa com o tema “Sementes Crioulas: Resistindo, partilhando e preservando”

Por: Geani Paula
Fotos: Geani Paula/Assesoar

Carregadas com sementes, mudas, alimentos para partilha e para ação de solidariedade, cerca de mil pessoas chegaram a Mangueirinha, nesta quinta-feira (14), para a 17ª Festa das Sementes. Agricultoras e agricultores, estudantes, profissionais da educação e de diversas áreas, assim como representantes das entidades de municípios do sudoeste e de outras regiões do Paraná, compartilharam sementes, alimentos e esperança em dias melhores.

A Festa se constitui como um espaço de articulação das trabalhadoras e trabalhadores e uma ferramenta de resistência, defesa, multiplicação e partilha das sementes crioulas, contribuindo para a soberania do campo e da cidade. O evento é organizado pelo Fórum Regional das Organizações e Movimentos Sociais do Campo e da Cidade do Sudoeste do Paraná, e teve apoio da Prefeitura Municipal de Mangueirinha, da Secretaria de Agricultura e da cooperativa de crédito Cresol.

“É uma alegria enorme perceber a importância da festa regional das sementes para o sudoeste do Paraná e para a nossa agricultura familiar. Ficamos muito felizes em ver todo esse povo aqui”, disse Cristiane Katzer, da coordenação do Fórum regional.

A  Escola Municipal do Campo Osvaldo Cruz, de Mangueirinha, trouxe a representação das sementes e a importância delas para a agricultura familiar, contribuindo com a realização da mística de abertura, mostrando aos participantes a diversidade, com uma chuva de bençãos das sementes.  

Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo, e coordenador do fórum gaúcho de combate aos agrotóxicos, esteve presente na mesa de abertura, e abordou o resgate e a preservação das sementes crioulas. “Se nós todos somos sementes, se todas as nossas ações são semeaduras, nós temos uma preocupação vital com o futuro, o futuro importa mais do que o presente, porque o futuro é onde se entendem as nossas gerações”, enfatizou Melgarejo.

Ao final da manhã, as crianças participantes da Festa apresentaram os desenhos que realizaram na ciranda infantil, com as cores confeccionadas a partir de sementes.

Partilha das Sementes – A Festa das Sementes surge a partir do entendimento da importância de ter um momento para mostrar a riqueza que existe na região e a grandeza da agricultura familiar, e para fazer o contraponto ao agronegócio. A realização se dá, principalmente, com a troca de sementes e suas variedades entre os participantes, fomentando a produção e a diversidade das espécies. Para isso, foi realizada a bênção das sementes, antes da partilha.

Padre Vagner, coordenador diocesano da ação evangelizadora, Padre Ademir, do município de Verê, e o Padre Francisco, de Mangueirinha, realizaram a bênção das sementes e mudas que foram compartilhadas, além das cestas de alimentos entregues na ação de solidariedade.

As guardiãs e os guardiões das sementes, pessoas convidadas das organizações e instituições, trouxeram grande diversidade de sementes, mudas frutíferas, chá, ovos, batatas e mandiocas, reafirmando a biodiversidade existente na região Sudoeste e em todo estado.

A agricultora familiar, Floripa dos Santos, do município de Mangueirinha, disse das sementes que compartilhou e trocou para ampliar a diversidade do que ela já planta. “Eu levei minhas pipoquinhas e feijões que eu planto, e trouxe semente de milho preto de outra qualidade, feijão, soja para semente, purunguinha doce, ervilha de árvore. Trouxe essas qualidades que eu não tinha e nós trocamos na festa”, contou a agricultora, já animada para a próxima edição.

Doação de três toneladas de alimentos – Mais de três toneladas de alimentos foram arrecadados e doados a cerca de 100 famílias em situação de vulnerabilidade do município de Mangueirinha. A ação é resultado de uma campanha de solidariedade promovida pela equipe organizadora e por quem participou desta edição da festa. As doações vieram de pessoas da agricultura familiar, atingidas por barragens, de assentamentos e acampamentos, sindicatos, cooperativas e trabalhadoras e trabalhadores urbanos.

“Semente é soberania alimentar. Hoje, no Brasil, nós temos 193 milhões de pessoas passando fome, pessoas que não vão ter o que comer, e nós precisamos estar cada vez mais unidos e lutando, para que a gente tenha soberania das sementes, a soberania alimentar, para que no Brasil ninguém mais passe fome”, enfatizou Cristiane Katzer, do fórum regional.